terça-feira, 15 de março de 2011

Constantino, o amigo e predileto de Deus


Constantino, o amigo e predileto de Deus


Constantino o grande
Constantino , o imperador romano, dando fim as perseguições, foi o primeiro estadista da Antigüidade a estabelecer um acordo de convivência com a Igreja Cristã. Em troca, foi contemplado com uma teoria de poder que legitimava sua autoridade sobre a cristandade inteira, estabelecendo-se desta maneira um modus vivendi entre o Estado e a Igreja que estendeu-se até os nossos dias.




A conversão do imperador


Constantino e Helena, protetores do cristianismo
"é preciso submeter-se a todo poder dominante.(...) o carrasco é servidor de Deus. Não queres temer o poder? Faze o bem e obterás louvor. Não é em vão que ele (o poder) usa a espada."
Hipólito de Roma – Comentário sobre Daniel

Para celebrar o 30º ano do reinado de Constantino o Grande, em 335, encarregou-se para o ato, em nome da Igreja, ninguém menos do que Eusébio, o bispo de Cesaréia. Os cristãos estavam em estado de graça perante o imperador. Depois de terem sido por três séculos perseguidos, eis que surgiu, em meio aos antigos opressores, um iluminado. Constantino convertido à nova religião, reconhecera-a em 313. Mal pôs o lacre no Édito de Milão, a pesada mão de Roma deixou de abater-se sobre os seguidores de Jesus. Dera-se um milagre. As igrejas se abriram, velhos templos pagãos foram reformados, e a vida clandestina e martirizada dos evangelistas e dos seguidores de Cristo cessou como que por encanto.
A conversão da dinastia romana fora tão sincera que a imperatriz-mãe Helena, a Santa Helena, e suas filhas, pessoalmente, em histórica viagem à Terra Santa, cuidaram da restauração do Santo Sepulcro em Jerusalém. A ocasião do aniversário era tão magnífica que Eusébio decidiu-se apresentar na cerimônia uma teologia política para fixar qual o papel do imperador no universo do Cristianismo oficializado.
“É um novo Moisés!”, assegurou Eusébio à corte presente. Constantino, tal o patriarca judeu, salvara o monoteísmo das injurias do politeísmo. Assim, se o Reino do Céus é governado por um só Pai, o mundo terreno o é por César. Ele é o lugar-tenente de Deus de quem recebeu, pela intermediação de Cristo, a função de assegurar na terra “o plano de Deus para os homens”. Designando-o como “pastor, pacificador, mestre, médico das almas e pai”, Eusébio, em êxtase, chamou-o de “amigo e predileto de Deus”(Laud. Constant., 5; 7,12).


A igreja e os impérios


Talvez, hoje, seja irrelevante saber-se que fim teria a seita do carpinteiro galileu se Constantino não a adotasse. Seja como for, dali em diante nem o Cristianismo, nem o seu pontífice máximo viveram afastados do Estado. Mesmo que, eventualmente, se altercassem com um ou outro regime, Pedro e César, invariavelmente, ancoravam-se num mesmo império. As mãos em oração asseguravam-se sempre estarem garantidas pelas que empunhavam a espada, fosse qual fosse a origem e a geografia da sua autoridade.
Ao desabar o colosso romano-ocidental no século V, O Papado, em substituição ao império caído, aproximou-se dos régulos bárbaros e, depois, do Império Carolíngeo. Ao dissolver-se este em 843, transferiu-se para o Sacro Império Germano, fundado em 962, com quem, desde o início, travou um embate pela liderança da Cristandade. A mitra e a coroa viviam em rixas, mas, faces do mesmo rosto, nunca imaginaram cindir-se.
Abalado e estremecido pela Reforma do século 16, o Papado aliou-se ao Império de Carlos V, e com todos os reis ibéricos que o sucederam. Até Napoleão, o aventureiro que juntara sua coroa no entrevero da Revolução Francesa – que tanto machucara e ofendera os padres - , acertou uma concordata com a Igreja Católica Romana.

Igreja e o Império Americano


Altercados com os liberais, que fundaram o moderno estado secular confinando o sacerdócio apenas às coisas do espírito, não hesitou o Papado – depois de passar 50 anos enclausurado no Palácio de São Pedro - em associar-se ao Império Fascista de Mussolini, assinando com ele o Tratado de Latrão de 1929. Refeito do desastre, resgatando a importância política do Vaticano para a Guerra Fria, ajustou o Sumo Pontífice, no após-guerra, seus passos para compor-se com o novo poder: o Império Americano.
O misterioso e proveitoso acordo Reagan-Woityla de 1982, talvez explicasse o estranho silêncio da Cúria Romana frente aos bombardeios sofridos pela Iugoslávia na época do governo de Milosevich. Afinal, trata-se de uma nação seguidora de Cristo - se bem que ortodoxa, mas ainda assim cristã. O Papado não se manifestou nem mesmo quando a aviação aliada (majoritariamente norte-americana), por mais de 70 dias, decolando do próprio solo italiano declaradamente para ir matar, começou a destroçar Nis, justo a velha Nissa, a cidade onde Constantino nasceu há 17 séculos atrás.

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