domingo, 13 de março de 2011

Os Precursores dos Incas

Com o recuo das geleiras e conseqüentes desertificações do litoral ocidental da América do Sul, algumas tribos nômades começaram a circular por aquelas regiões. Tal fato ocorreu há cerca de 14 mil anos. Essas tribos andavam por caminhos tortuosos, em busca de frutas, raízes, água doce e caça.

Foi nesse contexto que surgiram os primeiros indícios de civilização na América do Sul. Ao que parece, pequenas tribos começaram a avançar tecnologicamente, desenvolvendo a agricultura e criando cidades prósperas e relativamente grandes no final do terceiro milênio antes da era Cristã.

Chavin de Huantar

Esses povos não tinham muito em comum, apenas um traço muito marcante: a religião. Todos os povos adoravam uma divindade zoomórfica, com a forma de um jaguar ou puma. A adoração dessa divindade foi a responsável pelo maior legado arqueológico dessa época, a construção do centro cerimonial de Chavin (não se sabe ao certo como se chamava na época esse centro, devido à inexistência da linguagem escrita; portanto, ele foi batizado com o nome de um povoado localizado próximo a suas ruínas, Chavin de Huantar), por volta de 1800 a.C.. Esse centro cerimonial não consistia numa cidade propriamente dita, mas em uma espécie de sede oficial da religião daqueles povos (bem como o Vaticano é a sede da Igreja Católica). Não se pode chamar Chavin de cidade, pelo fato de que no local não residia ninguém além de sacerdotes e seus criados.

Todos os anos, Chavin era visitado por milhares de pessoas, que segundo consta, ofereciam-se para sacrifício em honra do Deus Jaguar. Alguns eram sacrificados e a multidão, depois de alguns dias, voltava para suas respectivas cidades. Esse processo desencadeou a expansão da divindade do Jaguar por todos os povos dos arredores da cordilheira dos Andes.

As diversas sociedades andinas, por meio de sua unidade religiosa, mantiveram relações ideológicas comuns, sendo orientadas pelos sacerdotes de Chavin.

Ruínas de Um Templo Chavin

Nazca

Entretanto, por motivos ainda obscuros para a Arqueologia, a cultura Chavin entrou em decadência no início da era Cristã, e desapareceu ainda no século I d.C.. Para ocupar o lugar deixado pela centralização anterior, os diversos povos andinos iniciaram pequenos reinos, dos quais alguns se expandiram para formar verdadeiros Impérios.

Alguns desses reinos têm muita relevância para que se compreendam as quão desenvolvidas foram às civilizações pré-colombianas da América. É o caso de Nazca, que apesar de estar radicada numa região de clima hostil conseguiu realizar construções que só uma civilização muito bem organizada poderia realizar.

Imagem Aérea da Região de Nazca

Tiahuanaco e Wari

Outros dois povos de suma importância que existiram nesse período foram os Tiahuanaco e os Wari, respectivamente localizados nas margens do lago Titicaca e no vale médio do Mantaro. Juntos, esses povos conseguiram reconstruir a unidade do fragmentado mundo andino. Tiahuanaco foi pouco estudada pelos arqueólogos até hoje, mas sabe-se que sua expansão dirigiu-se essencialmente para o sul, tendo sido iniciada no século VIII de nossa era. Os legados mais fantásticos dessa civilização são as grandes construções em pedra, como Machu Picchu, e também a chamada Porta do Sol, situada numa ilha do lago Titicaca. Aliás, a respeito do lago Titicaca éinteressante dizer que Tiahuanaco era uma cidade que se situava a sua margem. Digo era, não porque a cidade está em ruínas, mas sim porque o lago está diminuindo gradativamente ao longo dos anos, e hoje a cidade distam 20 km dele. Titicaca é o lago mais alto do mundo, estando situado a uma altitude média de 4000 m acima do nível do mar. Seu nome significa “mar do alto”, pois suas águas são salgadas e sua largura máxima chega a 60 km por 250 km de comprimento.

Ruínas de Tiahuanaco em Machu Picchu

Porta do Sol, construção de pedra em uma ilha do Lago Titicaca

O Império Wari teve sua expansão no século IX, sendo portanto mais tardia do que a expansão de Tiahuanaco. Sendo assim, a cultura Wari levava em si forte presença cultural de Tiahuanaco, podendo-se dizer que ambos os Impérios difundiram a mesma cultura. O período em que esses dois povos brilharam parece ter sido de grande vigor militar, principalmente no que diz respeito a Wari. As cidades do Império eram construídas geralmente em locais onde fosse possível construir apenas um muro reto, que protegesse a cidade, uma vez que as outras quatro paredes seriam substituídas por uma montanha. Ou seja, as cidades Wari eram construídas em reentrâncias de montanhas.

O território influenciado pelos Impérios Wari e Tiahuanaco, no que diz respeito à sua cultura, não corresponde ao território por eles dominado politicamente, pois sua influência atingia até mesmo regiões livres de sua dominação. Porém, ambas as cidades foram capitais de grandes Impérios andinos, precursoras de fato dos Chimu e dos Incas, alvo deste trabalho.

Ruínas de Pachacamac - Império Wari

No século XII, os Impérios Wari e Tiahuanaco entraram em decadência. O motivo disso, também devido a não existência de linguagem escrita, é desconhecido até os dias de hoje.
O fato é que a decadência desses novos centralizadores andinos abriu novamente caminho para o surgimento de pequenos reinos, dos quais três tornar-se-iam grandiosos, tornando-se dois deles, com efeito, Impérios.

Chanka, Chimu e os Incas

Esses três reinos a serem destacados são os Chanka, os Chimu, e os Incas. Como se sabe, os Incas constituíram um império e, como nos diz o título desta parte do trabalho, os Chimu também o fizeram.

Chimus

Os Chimus constituíram um pequeno reino que surgiu no litoral do atual Peru (aquele mesmo que no início foi descrito como muito seco, até desértico). Os Chimu são oriundos da baía de Guayaquil. Em embarcações de bambu, eles alcançaram por via marítima os vales de Chicama, onde fundaram sua primeira cidade. Esta região, na época da cultura Chavin, foi dominada pelo povo Mochica, que devido a várias guerras foi obrigado a abandonar a área. Os Chimu aproveitaram muitas ruínas Mochicas no início de sua ocupação. Eram ruínas de construções, mas principalmente de redes de irrigação. Os novos habitantes reativaram tais redes de irrigação e as ampliaram, começando assim, no século XIII, a desenvolver na região uma nova cultura.

Ruínas Mochicas Ruínas Mochicas

Tawantinsuyu: O Império Inca

Primeiro, devemos explicar que o nome do Império Inca era Tawantinsuyu, uma palavra Quechua que significa “As quatro Terras”, ou também “Os Quatro cantos do Mundo”.

A Colcha de Retalhos Étnica

Até agora, estudamos vários Impérios que existiram na América do Sul, antes dos Incas. Percebemos que esses Impérios não eram Impérios no sentido clássico da palavra, pois na verdade eram apenas grandes reinos.
Antes de continuarmos, é bom que se esclareçam os conceitos. Reino é uma extensão de terra, contínua ou não, que se encontra sob a autoridade de um monarca. Um bom exemplo de Reino é a Inglaterra, que apesar de todas as suas terras não serem contínuas, elas estão sob a autoridade de seu monarca.

Entretanto, Império é a designação de uma extensão de terras, contínuas ou não, a qual está dividida por vários monarcas que juram vassalagem a um, o Imperador. Um bom exemplo de Império foi o Sacro Império Romano-Germânico (aonde os vários senhores feudais – muitas vezes reis), juravam vassalagem ao Imperador. Baseados nesses critérios, podemos concluir que o Império do Brasil na verdade não foi um Império, mas sim um Reino, pois toda a extensão de terra estava sob as ordens do Imperador.

Pois bem, o Império Inca, como perceberemos, foi talvez o melhor exemplo de Império que já existiu. A etnia Inca, cuja origem é a cidade de Cuzco, realizou sua expansão, dominando outras cidades e povos, sendo estes subjugados e obrigados a jurar lealdade ao Imperador (que no Império Inca recebia o nome de Inka / na verdade, a grafia poderia ser com “C” também, mas optamos aqui por escrever com “K”, para facilitar a compreensão).

Ruínas de Cuzco

Em muitos povos antigos, o Sol se tornou um dos principais, senão o principal Deus. Foi assim com os indígenas brasileiros, que tinham em Tupã, seu Deus máximo, sendo que este simbolizava o Sol; com os Astecas, que tinham em Uitzilopochtli, o Sol, sua divindade suprema; os Egípcios, que tinham em Ámon-Rá, o Sol, e Áton, o círculo solar, algumas de suas principais divindades.

Não poderia ser diferente com os Incas, que consideravam o Intip (Sol), o Deus supremo de seu panteão. Bem como os faraós Egípcios, os Inka também era uma divindade, sendo, portanto o Império uma Teocracia (forma de governo característica da Antigüidade, em que o chefe de governo é considerado uma divindade).
Como já referimos em um momento anterior, o nome do Império Inca era Tawantinsuyu. Uma vez que já também já foi mencionada a tradução da palavra, vamos agora desmembrá-la, para explicar a divisão Imperial. Tawantinsignifica quatro, o número 4, e suyu significa terra, ou terras (nas vezes em que coloco a letra “S” no final de palavras quéchuas. Fazemos isso apenas para facilitar a sua leitura, pois o plural nessa língua não era feito dessa forma).

Depois que Pachukuti, o nono Inka, iniciou de fato a expansão territorial do Reino de Cuzco, o Tawantinsuyu começou a se formar. Sua divisão é simples. Os Incas consideravam Cuzco, sua capital, como sendo o coração do mundo. Sendo assim, pela cidade passavam duas linhas imaginárias em diagonal: uma que ia de noroeste para sudeste, e outra que ia de nordeste para sudoeste dos seus domínios. Sendo assim, o Império ficava dividido em quatro partes (suyus).
O suyu do norte recebia o nome de Chicasuyu; o do sul era chamado Kollasuyu; o do leste, Antisuyu e o do oeste, chamava-se Kuntinxuyu. Cada suyu era considerado um Reino independente, sendo governado por um Apu.
Existiam portanto quatro Apus, que deviam obediência ao Inka, constituindo-se assim, um Império na concepção exata da palavra.

Os suyus eram divididos em províncias, como grandes estados. Cada província era administrada por um governador, chamado Tukriquq. Ele morava na cidade principal da província, que era dividida em diversas regiões. Cada região tinha o governo de um kuraka (antigo chefe da etnia conquistada, a área ocupada anteriormente pela etnia seria a área que o kuraka controlaria; assim, os diversos kurakas se hierarquizavam de acordo com as antigas posses de sua etnia).

4 Terras (Suyu) de Tawantinsuyu

As regiões eram divididas em partes: podiam ser cidades ou aldeias. Geralmente eram aldeias, pois havia poucas cidades, normalmente uma por região, na qual morava o kuraka. Aldeias e cidades eram habitadas por ayllus. Estes formavam a base do Tawantinsuyu, representando a união de familiares e amigos numa espécie de clã que se unia para viver junto e trabalhar com mais eficiência, tanto para viver melhor quanto para servir melhor.

No Tawantinsuyu não havia ninguém que não tivesse terra. Quando alguém nascia, recebia das mãos do kuraka, um topo, quantidade de terra considerada suficiente para sustentar uma pessoa. Sendo assim, se a família fosse composta por três pessoas, teria três topos, e assim por diante. Quando uma pessoa morria, seu topo voltava para as mãos do kuraka, para que ele sempre tivesse terras disponíveis para dar aos recém-nascidos. A riqueza de uma família era indicada pela quantidade de pessoas que ela tivesse, ou seja, quanto maior a família, mais topos e mais riqueza.

O ayni era a principal virtude dos ayllus. Sua descrição pode parecer muito simples, como realmente é, mas nem por isso ele é menos importante. Graças ao ayni, a grande maioria dos kurakas aceitava sem maiores problemas a condição de súdito do Inka.

Ayni significa reciprocidade. Mas não uma reciprocidade do tipo toma lá, dá cá, uma vez que isso constituiria um comércio, e não existia comércio no Tawantinsuyu. Tal reciprocidade funcionava da seguinte maneira: para pagar um favor que lhe foi feito, você tem que fazer o favor em dobro para a outra pessoa. Por isso, os kurakas sempre se mostravam prontos para servirem ao Inka, pois sabiam que iriam receber em dobro tudo o que fizessem. Mas o ayni não funcionava apenas entre as autoridades do Tawantinsuyu, mas entre toda a população do Império.

A cidade de Cuzco foi a capital do Tawantinsuyu durante sua época de expansão, deixando de sê-lo na época de seu maior esplendor. Inicialmente a cidade era apenas um caótico vilarejo fortificado e dividido em duas partes compostas por quatro sub-partes. Ela permaneceu nessa condição até que Pachakuti (que já foi citado anteriormente) realizou com perfeição o plano de reurbanização de Cuzco.

Os Incas

Os incas viveram na região da Cordilheira dos Andes ( América do Sul ) nos atuais Peru, Bolívia, Chile e Equador.Fundaram no século XIII a capital do império: a cidade sagrada de Cuzco. Foram dominados pelos espanhóis em1532.

Os Incas habitavam os planaltos andinos, desde a Colômbia até as regiões do Chile e da Argentina atuais, tendo o atual Peru como o centro político, econômico e demográfico. As tribos Incas chegaram à Bacia do Cuzco, no interior dos Andes do Peru, por volta do século XIII. Ai coligou-se com outros povos existentes na região, adotou inúmeros traços culturais inclusive a língua “quíchua”, que impuseram depois na região dos Andes.

A denominação Inca se deu a partir de inúmeras guerras. Essas guerras criaram no interior do império, militares interessados nas atividades bélicas, porque essas lhe traziam benefícios, tais como títulos, bens e mão-de-obra servil. As guerras também visavam obter seres humanos para serem sacrificados dos deuses Incas.

Armas Incas

O imperador, conhecido por Sapa Inca era considerado um deus na Terra. A sociedade era hierarquizada e formada por: nobres ( governantes, chefes militares, juízes e sacerdotes), camada média ( funcionários públicos e trabalhadores especializados) e classe mais baixa ( artesãos e os camponeses). Esta última camada pagava altos tributos ao rei em mercadorias ou com trabalhos em obras públicas.

Apesar de arqueólogos e historiadores não concordarem, acredita-se que os incas vieram de uma região árida e montanhosa localizada nos Andes Centrais. Por razões também desconhecidas, eles deixaram seu lugar de origem em busca de novos territórios.

Ao chegar a Cuzco, aproximadamente no ano 1100, eles decidiram se estabelecer. A principal razão desta decisão foi a terra boa de cultivo que eles encontraram e também por se sentirem protegidos entre as montanhas de possíveis inimigos. Cuzco é um vale rico andino, situado na confluência dos rios Huantanay e Tullumayo, rodeada de um circo de montanhas que atingem uma altura de mais de 3000 metros acima do nível do mar.

Para se estabelecer em Cuzco eles tiveram que lutar e vencer o povo que vivia na região, provavelmente de língua aymará. Segundo alguns pesquisadores, os incas se aliaram aos senhores da região de Titicaca, com a qual mantinham estreitos vínculos econômicos.

De acordo com os relatos míticos dos incas, a fundação de Cuzco é atribuída a Manco Capac, considerado um herói e um deus. Ele foi o primeiro Inca, nome dado mais tarde aos monarcas, e estabeleceu as primeiras regras da organização social, que nesta época era um pequeno estado com pouco poder.
O sucessor de Manco Capac, Sinchi Roca, que significa herói guerreiro, iniciou a série de monarcas lendários que fortaleceram seu assentamento em Cuzco e dominaram o território até o lago Titicaca.

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