terça-feira, 15 de março de 2011

No Rastro dos Argonautas


Foi pensando nesses lendários argonautas gregos - uma espécie de heróis paradigmáticos de todas as aventuras náuticas do Ocidente -, que Camões pôs-se a imortalizar no Os Lusíadas os marinheiros de Portugal. Esses, os oceanautas, eram os herdeiros de Jasão, a versão real, moderna, atlântica dos temerários nautas gregos. Com a diferença de que os espaços que os capitães lusos desbravaram eram infinitamente maiores. O que é a vastidão do Mar Negro (o Ponto, como então os gregos o chamavam) perto de um Oceano Atlântico? O que é a dimensão do Rio Danúbio ao lado do Amazonas? O Rei Aetes, da pobre Cólquida, frente ao Samorim de Malabar, do Sultão de Bijapur, ou do Catual de Calicute, pareceria um mendigo. Jasão e seus companheiros, por sua vez, foram meninos travessos comparados a um Colombo, a um Gama, um Bartolomeu Dias ou a um Fernão de Magalhães.

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Colombo, Gama e Magalhães

Os Astronautas

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Hubble vagando pela solidão cósmica
E, na nossa época, seguindo esta tradição que mistura curiosidade e temerária virilidade do homem ocidental, a do grego e a do lusitano, alçaram-se aos céus os astronautas, que, a partir de 1961 - primeiro o soviético Iuri Gagarin, seguido do americano Alan Shepard, escancaram a estratosfera a toda ordem de foguetes e naves espaciais que se seguiram ininterruptamente nas andanças cósmicas desde então.
A Solidão Cósmica
Chegou-se à Lua, desvelou-se o lado escuro de Marte, descortinou-se o zodíaco inteiro, enquanto o olho telescópico do Hubble, esticando-se para bem mais além de tudo o que se conhecia, avistou, estima-se, mais de duzentos bilhões de sóis e cinco bilhões de galáxias outras. Mas até agora isso só frustou-nos, pois nada se encontrou, nem se achou. Nem ouro, nem bestas venusianas, nem chuvas siderais se revelaram, muito menos uma outra Atlântida habitada por inteligências superiores. Talvez por isso mesmo, pela ausência de algo sensacional, pela raridade dos perigos, nenhum Homero, ou um Camões dos nossos tempos, se é que os temos, compôs sequer um modesto épico para os astronautas. A solidão cósmica em que nos encontramos emudeceu a voz dos poetas.

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Gagarin e Shepherd

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