Cômodo (161-192), imperador cruel e hedonista |
"A cidade despedaçada não era mais um todo conjunto; e como se era cidadão como uma espécie de ficção....não se via mais Roma com os mesmos olhos, não se tinha amor pela pátria, e os sentimentos romanos não existiam mais."
Montesquieu - Grandeza e decadência dos romanos, IX, 1734
Calígula(12-41), a cara de menino escondia sua perversão |
Alma benigna, tinha especial desvelo pelo seu único filho homem, a quem ele esperava orientar pelos elevados princípios da escola de Zenão. No entanto, o jovem Lúcio Aurélio, criado como Calígula, em meio ao vozerio chulo dos acampamentos militares e ao som das trombetas e gládios de guerra, decidiu-se pela espada e não mais pelo livro. Quanto mais o pai refletia, mais o filho se embestava.
Gibbon disse que foi o próprio Marco Aurélio quem arruinou o filho, ao torná-lo parceiro do poder quando ele ainda era um adolescente. Porém, o mesmo Marco Aurélio fora ainda bem moço iniciado nas coisas do estado por Antônio Pio. Mas o filho não saíra o pai. Cômodo, imperador aos 19 anos, desatinou-se no trono imperial. A seu favor, diga-se, que tudo começou com um atentado fracassado contra a sua vida. O sicário, antes de tentar apunhalá-lo numa das saídas de um anfiteatro, gritou "O Senado vos manda isto!
Dos braços das amantes ele só saltou para arena, onde, para escândalo do mais inexpressivo plebeu, além de gastos exorbitantes com jogos, meteu-se em lutas de gladiadores. Ele mesmo ofereceu mais de 700 combates, adorando ver o sangue por todo os lados. Os espetáculos de circo, o rugido homicida da multidão nas arquibancadas, o grito das vítimas, o cheiro forte das feras soltas, o pó encharcado em vermelho, tudo isso o embriagava. Em seu epicurismo radical e depravado, ordenou que se punisse com a morte quem ousasse chegar perto dele com más notícias. Chamou-se de Hércules, mas não evitou que Márcia, uma das suas favoritas, o drogasse, e que, em seguida, um lutador fortíssimo, a mando de Emílio Leto, o prefeito do pretório, o estrangulasse, encerrando, em 192, um reinado que por treze anos envergonharia Roma ainda por muito tempo. Cômodo, como se viu, foi a perversão e não a meditação de Marco Aurélio.
Ano | Acontecimentos |
177 | Lúcio Aurélio Cômodo é chamado, aos 16 anos, para partilhar a gestão do império romano com o seu pai, o imperador Marco Aurélio |
180 | Marco Aurélio morre em Viena, pondo término a Era dos Cinco bons Imperadores (Nerva, Trajano, Adriano, Antônio Pio e M. Aurélio). Cômodo aos 19 anos é sagrado imperador. Tratado de Paz com os germanos quadri e marcomanos, para pacificar a região do Rio Danúbio. Cômodo fixa-se então em Roma |
182 | Atentado contra a vida de Cômodo. Lucila, sua irmã, junto com alguns senadores, tenta eliminá-lo. O fracasso do complô torna Cômodo paranóico e desconfiado. Perseguição aberta aos suspeitos. O governo é entregue a favoritos. |
184 | Grave crise nas finanças imperiais. Cômodo adota a política das "benevolências", extorquindo dinheiro e confiscando o patrimônio dos ricos. |
185 | Execução de Tigito Perenis, o chefe pretoriano que acumulava a governadoria, acusado sem provas de traição. Início da administração de Cleandro, um escroque, corrupto e perdulário. Cômodo lança-se em grandes gastos em jogos, circos e lutas de gladiadores, das quais também participa. |
190 | Morte de Cleandro durante um amotinamento popular em Roma. Devido a uma série crise de abastecimento de grãos, a plebe se revolta. Gastos de Cômodo em luxo e excentricidades continuam. Comportamento errático e ilógico do imperador. São cada vez mais visíveis os seus sinais de perturbação mental. Numa homenagem a si mesmo, altera o nome da capital imperial para Roma Colonna Commodiana (a colônia de Cômodo). |
192 | Assassinato de Cômodo. Márcia, sua amante, em conluio com o prefeito pretoriano Emílio Leto, mandam estrangular Cômodo em seu quarto. O Senado romano indica o general Públio Pertinax como o novo imperador. |
Carcopino, Jerôme - A vida quotidiana em Roma no apogeu do Império, Lisboa, s/data.
Gibbon, Edward - Declínio e Queda do Império Romano, São Paulo, 1990
Mommsen, Theodor - El mundo de los Cesares, México,1945
Montesquieu, Charles, barão de - Grandeza e decadência dos Romanos, São Paulo, 1968
Suetônio - A Vida dos Doze Césares, Rio de Janeiro, s/data
Veyne, Paul - Le pain et le cirque: sociologia historique d'un pluralisme politique, Paris, 1976
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